Por que se diz que o brasileiro não sabe ser ver? Não reconhece a sua imagem? Há séculos, pesquisadores procuram detectar uma imagem que represente o “ser brasileiro”, aquela que mais o identifica como um povo, e que está oculta em suas ações, no que faz e diz. Esse “ser brasileiro” não caricato seria bastante sutil, que até hoje ainda buscamos reflexos dessa imagem que o brasileiro tem de si.
Essa imagem que o brasileiro oculta de si mesmo, a identidade que não gosta de assumir, ainda é o arquétipo mais profundo em obras cinematográficas, como “Bacurau”, e na literatura de Machado de Assis ou Jorge Amado, e até mesmo de Guimarães Rosa. Hoje não é diferente dos anos 1956, quando o famoso ensaísta Paulo Rónai, ao fazer a apresentação da obra “Grande Sertão: Veredas”, deixou de fora o sofrimento dos personagens para ressaltar a temática do sertão.
Rónai defendia a ideia de sempre, de que naquela literatura intrincada podia se perceber a imagem oculta que o brasileiro projeta para si e, por tabela, como ele se vê, e que não se reconhece nela. Descobrir essa imagem invisível na literatura foi mais importante para o crítico do que a densidade e o sofrimento de seus personagens, que sensibilizam de fato os leitores.
E qual o pensamento do brasileiro que precisa ser reconhecido? O que ele esconde que não conseguimos perceber?
Essa imagem não é fácil de reconhecer, porque é recusada pelo brasileiro. Ele construiu, através de sua cultura, uma troca de valores para impor uma imagem diferente, que agora iremos investigar como ela está presente especialmente na literatura, nas telenovelas e no cinema. E a primeira constatação é a de que o brasileiro não se reconhece na sua imagem por falta de noção e, por consequência, pela negação da verdade.
Já foi constatado que o brasileiro está entre os povos mais tapados do planeta, sem percepção de si próprio e do mundo à sua volta. Uma pesquisa realizada pelo Instituto IPSOS, em 2018, mostrou que o Brasil é um dos países que tem o “povo mais sem noção no mundo”. Com entrevistados de 38 países sobre a sua realidade, o Brasil ficou em 37º lugar no quesito “percepção”, perdendo apenas para a África do Sul como o país que não tem noção de sua própria realidade. O que está por trás de um dado tão preocupante e que o brasileiro não se importa?
Essa “falta de noção” de si e do mundo à sua volta vem ser a primeira e a mais importante característica desta imagem que o brasileiro recusa, porque revela como ocorre a troca dessa verdade por outra imagem, mística e mágica, onde os valores de “verdade” estão invertidos. O Brasil foi considerado um dos países com a população mais sem noção do mundo, porque o brasileiro confunde “sensação” com “percepção”, tendo com isso uma noção equivocada de sua realidade.
Essa troca esconde um mundo sensível em que a inversão da “percepção” da verdade e da realidade pela “sensação” dessa verdade e dessa realidade, no fundo, é imperceptível ou negada. A sensação é algo que não é “verdadeiro”, mas um sentimento de verdade oculto que precisa ser reconhecido, enquanto que a “percepção” é o reconhecimento direto e rápido dessa verdade. Essa imagem negada é gerada pela “falta de noção”, ao fazer uma troca da “percepção”, que significa ver a realidade e a verdade, por uma “sensação” de uma verdade, ou seja, que o sujeito apenas “sente” uma verdade e uma realidade, mas não “sabe” realmente sobre ela.
A falta de percepção resultou em uma troca do “saber” pelo “crer”, da verdade e sofrimento pelo “poder da cura”, da lógica da ciência pela crença e pelos valores da negação. E assim é preciso entender qual a nossa imagem verdadeira, não somente aquela que o brasileiro “vende” de si, e que não leva em conta que somos um dos povos mais sem noção do planeta. Esse não reconhecimento do que é verdadeiro projeta valores negacionistas como se fossem positivos. Essa imagem vista pelo olhar estrangeiro, que tem mais valor na verdade que na sua negação, mostra com clareza como trocamos o saber pelo crer, e a ciência pelo poder do querer, da cura e da magia.
Negação do sofrimento na invenção da felicidade
Um dos reflexos dessa falta de noção, além dos motivos da fraca e pouca educação, é a geração de uma imagem que brasileiro passa para o outro de que ele não sofre, porque sofrer é uma “fraqueza” moral. Somos um país da alegria e da empatia que resolve os problemas com mágica, em que negamos os valores do sofrimento. Por que negamos o sofrimento? Enquanto buscamos respostas, podemos afirmar que o brasileiro criou o seu próprio índice de felicidade, em que está em jogo a sua falta de percepção, como uma “felicidade inventada”. Não somos um povo tão gentil assim. E nem sempre alegria é sinal de felicidade.
No Índice Global de Felicidade, realizado pela ONU em 2021, em razão da pandemia do Coronavírus o Brasil caiu 12 posições, ocupando o 41º lugar, enquanto que a Finlândia ocupou, pela terceira vez, o primeiro lugar. Há alguns anos, o Brasil chegou a ficar entre os 10 mais felizes, e o próprio brasileiro, mesmo com o índice baixo, continua se elegendo um dos povos mais felizes do mundo.
Enquanto Finlândia e Noruega lideram o índice de felicidade pelo alto grau de “percepção” de seus povos, especialmente pela educação e igualdade social, no Brasil seu povo se elege feliz por não ter percepção de sua verdade e de sua realidade. Essa falta de percepção do brasileiro não o deixa ver sua imagem dentro de uma enorme desigualdade econômica, bem-estar e social. Se o brasileiro tivesse a percepção dos finlandeses, que têm de si e do mundo em que vivem, já teríamos feito uma revolução.
Porque a felicidade não é só reconhecer o sofrimento como valor, como fazem os europeus e americanos, leva em conta vários fatores, como os levantados na pesquisa de 156 países, para saber a verdade que está por trás dos números do PIB, expectativa de vida, generosidade, suporte social, liberdade e corrupção, que são comparados a um país imaginário, chamado Distopia.
Essa falta de noção se reflete como negação, e levou o brasileiro a ser reconhecido pelo olhar do estrangeiro como um sujeito que criou “outro” jeito de sofrer, em que não reconhece suas próprias passionalidades, inerentes ao ser humano. Com isso, o Brasil tem se tornado o país da “cura”, como se a ciência ainda não existisse, reconhecido como a nova “terra santa”.
O Brasil não ganhou essa fama de negacionista e de que “crê em tudo” de um dia para o outro. Nosso grau de negacionismo, que tem crescido nos últimos anos, avança para o campo da ciência com um “negacionismo científico”, como um dos povos que acredita em Terra Plana e Fake News, e que troca os valores do saber para subir na vida pelos valores religiosos. Se o Brasil não tem cientista, tem magos de sobra. Nosso escritor mais famoso no mundo é um mago, Paulo Coelho.
Negação nas telenovelas
Mas qual a imagem que o brasileiro tem de si e que está implícita nas telenovelas, um tipo de dramaturgia que já virou “brasileira” pela forma como negamos o sofrimento dos personagens? Uma imagem de negação que ocorre em razão de valores, porque existe embutida na imagem que forma o pensamento do brasileiro, no seu “simulacro existencial”, a ideia de que o “sentir” passional é um valor negativo, e assim elimina a possibilidade de que somos afetados por paixões. Para o povo europeu e americano, admitir o sofrimento é um valor positivo, que buscam alcançar, e que conseguem através da percepção do que sentem.
Então, geramos uma imagem para nós sem sofrimento, que, por outro lado, gera um símbolo dessa falta, que é a “loucura”, que nem uma paixão chega a ser. Elegemos a “loucura” como uma paixão sentida pelos brasileiros no lugar de uma paixão de verdade. A nova ciência da Semiótica das Paixões, desenvolvida pelo linguista A. J. Greimas (1954-1992), mostra como as paixões são importantes nas pessoas e nos personagens, porque são elas, e seus efeitos, que regem as suas ações, suas falas, e a lógica do sentido da vida. São consideradas paixões a mágoa, o ressentimento, o rancor, a melancolia, o medo, a culpa, a raiva, a ambição, a admiração, o ódio, a ira.
Na boa ficção, cada personagem é afetado diferentemente por uma paixão, mas no caso da telenovela, que nega o sentido e a verdade dessas paixões, os personagens têm como destino sempre uma “loucura”, que toma o lugar da percepção do que “sentem”. O brasileiro não sabe muito bem reconhecer as paixões, e isso é uma das causas que justifica a sua falta de noção de si próprio e do mundo sensível que o cerca.
Em uma pesquisa no Google, encontramos muitas mídias com títulos remetendo à loucura dos personagens nas telenovelas, como em “Amor de Mãe”, onde “Thelma enlouquece e tenta virar Lurdes, enquanto a mantém refém”. Ou, no final de “Ti Ti Ti”, “Luísa enlouquece, atropela Marcela e foge”, e na novela “Fina Estampa”, o personagem “Pereirinha enlouquece e tem final trágico em alto mar”. Essa loucura vem ser uma paixão criada pelo brasileiro para negar a “existência” das paixões, que significa literalmente “sofrimento”.
Para jogar luz sobre essa troca, tomemos como exemplo os filmes de Kleber Mendonça Filho, o cineasta brasileiro mais importante internacionalmente, neste momento, com uma obra admirada não por sua temática, mas pela maneira como aborda as passionalidades de seus personagens. Em “Bacurau”, dirigido junto com Juliano Dornelles, existe um caso raro de uso correto das aplicações das paixões nos personagens, em que Domingas (Sônia Braga) possui uma expressão “ressentida”, afetada pela paixão do ressentimento em razão de um drama no passado com outra mulher.
Assim como temos a paixão da melancolia em Teresa (Bárbara Colen), que se “sente invisível”, e as expressões de raiva de Pacote (Thomas Aquino) e Lunga (Silvério Pereira). Cada personagem tem seu tipo de sofrimento, e não uma loucura, que vem ser um “dano” endógeno, e do campo científico da psiquiatria. E foi esse uso correto do sentimento universal dos personagens, e não a temática bem brasileira, que levou o filme à mostra principal do Festival de Cannes, e possibilitou que a obra fosse entendida e reconhecida por outras plateias do mundo.
As paixões da “raiva”, “melancolia” e “ressentimento” são paixões que afetam os personagens de maneiras diferentes. O melancólico tem um desejo de morte, se acha invisível, é um personagem “anestesiado”, como classificou Freud, enquanto que a raiva é uma paixão passageira, forte, rápida. Já a melancolia, ao contrário, não sai nunca do personagem, porque é uma paixão endógena, não adquirida como o desejo de vingança, e irá afetar o personagem até a sua morte. A paixão do ressentimento está ligada a um acontecimento passado, a uma forte mágoa que afeta de outra forma o personagem, e que é bem diferente dos efeitos da raiva ou da melancolia.
Essa falta de noção da verdade sobre as paixões resulta na “magia sentida” dos personagens das novelas e séries brasileiras, sendo que o cinema e a boa literatura rompem essa bolha, em que o brasileiro trocou o “sofrimento sentido” pelo negativismo do valor do sofrimento, positivando a “cura” longe da ciência.
Cada sociedade define seus valores com os quais se espelha e o brasileiro inverteu o “valor do sofrimento” com uma imagem de alguém que vive um “carnaval eterno” e, no caso dos personagens, a busca de suas jornadas não é para encontrar uma verdade que está oculta no discurso, mas uma “cura” baseada na crença. Como efeito da busca pela cura para o sofrimento, o Brasil virou um dos maiores celeiros para o nascimento e acolhimento de seitas místicas e religiosas, ou disfarçadas em outros modismos.
Um exemplo de como os americanos valorizam o reconhecimento das passionalidades como virtude pode ser visto nos comentários de Jane Fonda, no documentário “Jane Fonda em Cinco Atos” (HBO). Em sua busca de “valor pela verdade”, a atriz faz uma imensa defesa de não trocarmos a busca pela ciência por uma busca pela cura mística ou religiosa, como forma de mostrar o valor de sua imagem como pessoa. A imagem que a atriz faz para si defende valores do povo americano baseado “na verdade”, e se reconhecendo como alguém positiva por ser “imperfeita” por ter defeitos, por ter conflitos existenciais. Ela faz esse relato íntimo, porque isso se tornou uma conquista positiva para a sua imagem.
Não seria essa negação do sofrimento uma forma de o brasileiro enfrentar os valores americanos e europeus? Que a negação desses valores seja uma forma de reação contra a “potência” dos norte-americanos e europeus em tudo o que não somos? Desta forma, podemos afirmar que a imagem que o brasileiro gerou para si é uma imagem de poder baseada no “crer” em detrimento do “saber” que os americanos e europeus geraram para si.
O brasileiro vende a imagem de um tipo de negacionismo no “crer” como valor de verdade, como “magia” ou “alegria”, como se estivéssemos na Idade Média, enquanto que americanos e europeus, as potências do saber, onde estão os cientistas e os avanços do mundo, vendem o valor do conhecimento, e do sofrimento com todo o seu mal-estar, como sentido de verdade embutido em sua imagem projetada.
Daí o negacionismo do brasileiro como uma resposta à imagem que esses países têm do Brasil, que reconhece o brasileiro como um povo sem noção, e que ele se recusa a se reconhecer nessa imagem que o estrangeiro faz dele. Não se vê como um complexo de “vira-lata”, mitificado por Nelson Rodrigues na imagem do brasileiro.
Como o brasileiro troca o duelo pela “tocaia”
Como vemos essa “potência” brasileira da magia e da malandragem em “Bacurau” contra uma potência estrangeira? E como, nessa guerra entre brasileiro e estrangeiro que está no filme, é revelada nossa imagem de “violento” que negamos, e não de um povo ordeiro e empático que gostaríamos de ser?
Nosso ser cordial é um simulacro, uma armadilha. Ele serve especialmente para esconder uma índole violenta e assassina, assim como a forma como enfrenta com suas crenças os poderosos da ciência e do saber, e os vence com suas artimanhas traiçoeiras. O enredo do filme “Bacurau” relata uma guerra entre os moradores indefesos de uma pequena cidade no interior do Nordeste, na luta corpo a corpo com invasores estrangeiros, que vieram para matá-los, em que a aparente inocência de uma comunidade esconde uma verve violenta na forma como enfrenta e mata seus inimigos, através da “tocaia” e cortando suas cabeças com facão.
A maneira como agem os personagens de “Bacurau” está refletida no imaginário desse brasileiro hostil e esperto, como João Grilo e Chicó, ícones da esperteza do brasileiro, e que se apossam dos personagens do filme, em que os fracos vencem os fortes através da “astúcia” e da “tocaia”, nossa marca de lutar de um jeito não muito nobre. Podemos perceber essa troca de como o brasileiro prefere a “tocaia”, uma forma covarde de atacar e matar o outro de surpresa, em contraponto ao “duelo americano”, de encarar o outro de frente, na honra do olho no olho.
Ao mesmo tempo em que não tem potência pelo “saber” e pelo “poder”, o brasileiro gerou no “crer” um grande valor ao sujeito despossuído de valores, dotado de grande astúcia, mesmo que para agir politicamente incorreto, diferente da nobreza do duelo. Essa “empatia brasileira” que “Bacurau” mostra não existir é vendida como potência que os americanos e europeus não têm. Os americanos são os povos menos empáticos do mundo, e nada melhor do que competir com a maior potência do mundo com aquilo que eles não têm, e nós inventamos.
Essa imagem tem raízes profundas, vista com muita clareza na obra de Ariano Suassuna, “O Auto da Compadecida”, que já explora essa guerra imaginária da esperteza contra a força dos poderosos do “saber”. Mas o brasileiro nega essa imagem, e vende a empatia e a “cura” espiritual nas novelas, na maioria dos filmes brasileiros, e até em peças de teatro negacionistas, em que trocam o saber da ciência pela “cura” no crer.
Essa imagem gerada pelo brasileiro como valor da empatia é uma “intenção” e pode ser vista em uma pesquisa divulgada, em 2016, pela Universidade Estadual de Michigan (EUA), que colocou o Brasil em 51º lugar em um “ranking de empatia” entre 63 nações. O brasileiro não só nega o sofrimento, como também encontra uma forma de vender uma “crença na empatia”, lucra com essa imagem. Tanto que o brasileiro acredita que, assim como existe cura gay, a empatia cura assassinos, como Lázaro Barbosa, que fez curso de “empatia” na prisão em Brasília, mas que, quando saiu em liberdade, deixou um lastro de assassinato maior do que já tinha cometido antes.
Negacionismo na ciência
Que relação existe entre essa “fé” e a falta de noção? Uma pesquisa do Data Folha de 2021 mostrou que o brasileiro acredita que pode melhorar de vida mais pela religião (28%) do que pela educação (18%). Esse maior reconhecimento do valor pela crença demonstra que, nessa imagem invertida que faz de si, em que não assume ser negacionista, lhe falta percepção para perceber de fato que trocou o “valor” do crer pelo valor do saber, como sendo algo positivo. Não vê e, com isso, nega o valor que o saber tem. A pesquisa, em que a religião venceu a educação, abrangendo todas as classes sociais, revela que essa imagem do brasileiro é resultado de uma imensa falta de educação que melhore sua percepção.
O Data Folha também revelou que 7%, ou seja, cerca de 11 milhões de brasileiros acreditam que a Terra é plana. E uma pesquisa realizada em 2020, em plena pandemia do Coronavírus (Covid-19), revelou que 7 em cada 10 brasileiros acreditam em fake news. São quase 100 milhões de brasileiros que não sabem reconhecer se uma notícia vista na internet é falsa ou não. Assim como não reconhecem o grande abismo social entre pobres e ricos.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, um sujeito terrivelmente evangélico, e que nega veementemente os saberes da ciência e da verdade, se tornou um dos maiores signos desse negacionismo brasileiro. Ao se apegar a essa imagem, o país perdeu vidas durante a crise do Coronavírus que poderiam ser salvas, e consumiu um mundo de notícias falsas, que resultou em inquéritos e em uma CPI. O STF, por exemplo, está investigando os danos causados por uma notícia falsa do presidente, que muitos acreditaram, em que relacionou a síndrome da imunodeficiência adquirida à vacina contra a Covid-19.
O que colocamos de valor no lugar da ciência? Que prejuízo está tendo o Brasil com esse negacionismo científico? Já temos até um termo para o negacionismo científico, “agnotologia”, criado nos Estados Unidos para estudar os efeitos dos fenômenos de produção política e cultural da desinformação. Em razão da troca de valores, o Brasil é um dos países que menos investe em ciência no mundo. No ranking dos que mais mantêm profissionais qualificados, o Brasil despencou 25 posições de 2019 para 2020; passou da posição 45 para a 70. Registrou, em 2021, um dos maiores índices de “fuga de cérebros” do país.
Isso reflete uma imagem que o brasileiro não quer ver de si, a de que não é um leitor de livros, como fala para todos mesmo sem nunca ter lido um, e que tem um dos piores índices de educação do mundo, aparecendo na 38ª posição entre 40 países analisados no The Learning Curve, recentemente. Esse índice baixo ocorre em razão das poucas habilidades cognitivas dos brasileiros, comprometidas em razão do baixo desempenho escolar.
Recentemente, o cineasta João Moreira Salles, em entrevista ao jornal O Globo, demonstrou sua indignação com esse descaso do Brasil com a ciência e o saber, e considerou a fuga de cérebros um “crime de lesa-pátria”, que isso transformou o Brasil em “um país fadado a ser apenas fornecedor de carne e soja para adulto inteligente que faz vacina, iPhone, carro elétrico, supercondutor, inteligência artificial. Cientistas nunca tiveram muita presença na nossa imaginação, e isso é muito triste”.
Em resumo, “vendemos” muito bem nossa imagem que tem poder na “cura” e na “magia do querer” como valor de verdade e de uma potência inventada, em contrapartida às potências do saber, onde estão os cientistas e os avanços do mundo, e que vendem o valor do conhecimento, e do sofrimento, como sentido de verdade. Uma potência que nos ofende.