Cena da aninmação “Meu Malvado Favorito”
Fui assistir a “Madame Teia”, produção da Marvel, para entender por que o filme, que era para ser um sucesso como os outros filmes da grife, não deu certo, o público não se interessou pelo tema da “adoção”, que atualmente está em voga e vem sendo a galinha dos ovos de ouro da indústria. Basta ver os números de “Meu Malvado Favorito” (foto acima), que se tornou a primeira franquia animada a ultrapassar US$ 5 bilhões em bilheteria. Mas, mesmo com um tema rentável, o filme da Marvel não funcionou, porque não foi feito com a “fórmula certa”.
Esse fenômeno da adoção e do “cuida de mim” já rendeu o maior recorde de gamers de um jogo, especialmente crianças, que se tem notícia. Em 2020, o game Adopt-Me (Adote me) atingiu 10 bilhões de visitas, tornando-se o primeiro jogo a superar a população humana. O que existe de atraente neste game não é a questão da adoção em si, mas como as crianças geram uma “família perfeita”, porque estão sendo educadas erroneamente pela ideologia cristã de que toda família é perfeita, e na verdade nunca é.
“Last of Us”
Mas a fórmula destes filmes está mesmo é na cabeça do espectador, no seu sentimento e pensamento. Os bons filmes de adoção, que se tornam fenômenos, não trabalham a adoção diretamente, não exploram a questão da cura do sofrimento “de quem adota”, o que nunca funciona. Os grandes sucessos não tratam o tema a partir de quem adota, mas no foco daquele espectador que “busca” essa potência virtual, esse “cuida de mim”, que os filmes e séries trazem, e que rendem Oscars.
A série que mais conquistou fãs e teve ao menos dois spin-offs foi “Mandalorian”, da Star Wars, em que um mercenário que deveria entregar um bebê, o Baby Yoda, e age o contrário, não o entrega e o protege, com o mesmo cuidado e amor como se fosse um filho adotado. A percepção de adoção do espectador fica subjetiva, ele não a recusa, como às vezes ocorre quando o tema se torna explícito demais. O mesmo acontece com a série “Last of Us”, ou filmes como “Kung Fu Panda”, em que o tema da adoção não é importante, não está em primeiro plano e não é o tema da obra.
A fórmula dos bons filmes é chegar no sentimento do espectador pelo cuidado que um “destinador” tem com outro personagem desprotegido, ao lhe doar proteção e um “olhar para o outro”, que todos esses espectadores, na sua vida cotidiana, também cobram dos outros, amigos e parentes. É tratar o tema de forma conotativa, e não denotativa, como fazem os milhares de filmes que não “pegam” esse público.
“Madame Teia”
No filme “Madame Teia”, a personagem Cassandra Webb, que tem poderes de adivinhar o futuro, adota propositadamente um grupo de três garotas largadas pelos pais, sem levar em conta que as três garotas não nutrem o sentimento de “olha para mim”, tornando o tema simplista demais, com a busca de uma “cura” para seu sofrimento.
Não repete a fórmula de “Meu Malvado Favorito”, com mais de cinco filmes, em que o destinador de potência, o adotador, “não quer adotar” e “não sente falta” de filhos, bichos, qualquer coisa que seja. Essa contradição enriquece o tema e o torna mais interessante do que mostrar o “sentimento de culpa” de quem adota, apenas para resolver o seu problema em si.
“Madame Teia” não levou em conta o sentimento de “falta” nas personagens das três garotas, o desejo delas. Veja o caso do filme “Matilda”, que não é uma órfã, em que a adoção não é o propósito de quem adota, no caso uma professora boazinha, sem potência e sem filhos. A professora é escolhida por Matilda, que não só supera o medo, porque tem poderes de bruxa, mas na verdade é ela quem adota a professora, que é medrosa. Uma inversão de papéis que levou em conta a “fórmula” dos fenômenos de antes e de agora.